Federações e fusões partidárias antecipam disputa eleitoral de 2026 na Bahia
Movimentos nacionais redefinem alianças e embaralham o cenário político estadual
A política baiana já começa a se reconfigurar para as eleições de 2026, impulsionada por negociações em Brasília que envolvem federações e fusões partidárias. A articulação nacional entre legendas, que visa fortalecer bancadas ou garantir a sobrevivência de partidos após o fim das coligações proporcionais, tem impactos diretos e profundos nas alianças locais, muitas vezes forçando rupturas e rearranjos inesperados.
Federação União Brasil-PP: ruptura na base de Jerônimo
A criação da federação entre União Brasil e PP — batizada de União Progressista Brasileira (UPB) — é um exemplo emblemático. No plano federal, a união rendeu à nova frente a maior bancada da Câmara, com 109 deputados. No entanto, na Bahia, o acordo minou planos do PP de apoiar institucionalmente a reeleição do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
O controle da nova federação no estado deve ficar com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), principal adversário de Jerônimo. Isso frustra os esforços do deputado federal Mário Negromonte Júnior, que preside o PP baiano e buscava manter o partido na base do governador.
Com isso, quatro deputados estaduais do PP — Niltinho, Hassan Iossef, Eduardo Sales e Antonio Henrique Júnior — articulam uma saída conjunta da legenda. A ideia é migrar, em bloco, para outro partido aliado de Jerônimo, mas essa movimentação esbarra em resistências internas nos possíveis destinos.
Resistência e cálculo eleitoral travam migração
Partidos da base do governo, como MDB, PDT e PSB, são sondados pelos dissidentes, mas há resistência interna. Candidatos dessas siglas, já de olho em 2026, temem perder espaço para os recém-chegados. A disputa por vagas na Assembleia Legislativa torna a equação política mais complexa.
O Podemos desponta como alternativa viável para receber os quatro deputados. No entanto, as negociações estão em compasso de espera até que se defina o futuro da possível fusão nacional entre Podemos e PSDB — um processo mais profundo que uma federação, pois implica na criação de um novo partido com identidade e estrutura próprias.
Fusão PSDB-Podemos: impacto direto no comando estadual
A fusão entre PSDB e Podemos também promete causar abalos na política baiana. O PSDB integra o grupo de ACM Neto, enquanto o Podemos está alinhado ao governador Jerônimo. A principal incógnita é: quem comandará a nova legenda na Bahia? A resposta a essa pergunta será decisiva para o destino dos deputados do PP que tentam migrar.
MDB e Republicanos: conversas em andamento
Outro movimento relevante é a possível federação entre MDB e Republicanos, partidos que hoje estão em lados opostos na Bahia. O MDB é da base de Jerônimo e tem o vice-governador Geraldo Júnior; já o Republicanos, liderado no estado pelo deputado federal Márcio Marinho, é aliado de ACM Neto.
Embora Marinho tenha negado que a federação seja prioridade neste momento, fontes indicam que as negociações estão avançando em Brasília. O ex-ministro Geddel Vieira Lima, figura de peso no MDB baiano, deve acompanhar de perto as tratativas na capital federal. Vale lembrar que o MDB chegou a discutir uma federação com o PSD, mas as conversas não prosperaram.
Federação x Fusão: entenda as diferenças
Apesar de frequentemente confundidos, federação e fusão são institutos distintos no sistema partidário brasileiro:
Federação: dois ou mais partidos se unem para atuar como uma única legenda por, no mínimo, quatro anos, mantendo suas identidades jurídicas separadas. A união é obrigatória em todas as esferas — federal, estadual e municipal.
Fusão: implica na extinção das siglas originais e criação de um novo partido, com novo estatuto, comando e registro. É uma incorporação definitiva, não uma aliança temporária.
O xadrez de 2026 já começou
Mesmo a mais de um ano da abertura da janela partidária — período legal para trocas de legenda sem risco de perda de mandato — o cenário na Bahia já se mostra em franca movimentação. As articulações em curso antecipam o jogo eleitoral de 2026, com rearranjos que podem alterar profundamente as forças políticas no estado.
